PALAVRAS ARRUINADAS

Falo com sofreguidão.
Insisto, em vão, num mundo
Que vejo, lá no fundo,
Não existe mais.

Escrevo palavras fatais,
Calo os meus dias...
Atravesso dores vazias,
Invento amores sutis.

Registro tolos e seus ardis.
Marcas sem cor, palavras sem alma.
Para, quem sabe, a brisa leve e calma
Me traga algum significado.

Por enquanto, este amarelo sorriso,
Olhar antigo pregado na parede morna.
Por enquanto, esta pele que me adorna,
É tudo que possuo, velho paraíso!

E, se a morte ainda não me chega,
Se a vida de mim não distancia,
Me resta, no tolo que ainda balbucia,
O registro de cada segundo amargo.

Receio que com minha poesia,
O amarelo do sorriso, tornado "largo",
O fracasso do amor, tornado "farto",
Transforme em ilusão a verdade escondida.

Assim, sinto mais nada ainda,
Quando tua voz imaculada
Calma, forte, suave, pálida
Resolve visitar-me abaixo do umbigo.

Mas, antes de tudo,
Sinto seu rosto amigo próximo ao meu.
Quando o espírito ateu
Reza para um deus deconhecido.

Escrevo com incontido sorriso,
Alimento vaidade desmedida,
Curo com palavras uma ferida,
Que há muito cicatrizou.

Tento construir novo amor,
Com tijolos arruinados de outrora,
Tento vislumbrar nova aurora,
Não sei... meu tempo passou.






CONVERSATION

0 comentários:

Postar um comentário

Back
to top