EU... OS OUTROS.

Espero por um bom dia
Leve, lúdico e calmo.
Mas de que adianta chamá-lo,
Se esbarro (acidentalmente) em mim?

Tropeço em minha arrogância,
Me firo com a ira que salta.
Esfaqueio com falta de amor,
E dilacero meu orgulho.

E o pior... O pior, é que sou muitos!
Milhões de réplicas vociferando,
Juras de ódio, conspirações, encantos,
Estratégias mal amadas.

Vivo - eu e minhas réplicas - à procura
Do ninho vazio, força absoluta
Um eterno vão de alguns anos.

Moro na caverna das ilusões.
Amo um poder mesquinho,
Um carro importado e alguns milhões.

Rastejo em torno de mim
Como lesma em torno da árvore.
Estou cheio de rancor e raiva
E ainda espero pelo dia bom...

E como tê-lo,
Se durmo e acordo pensando no espelho?
Se a comodidade do monólogo
Apodrece na lama vil da tolerância?

E como tê-lo,
Se a ponte que construo é idiota...
Se o alcance das compreensões
Resume-se ao fogo da minha arma?

E como tê-lo,
Se o sono acabou e o dia mal começa.
Se as virtualidades imbecis escapam
Por entre os dedos da minha existência?

Melhor e mais fácil: prefiro odiar-me.
Por uma diferente farda, uma farpa,
Uma chapa ou ideologia.

Melhor e mais fácil: acabo com as dissidências.
Consumo as dissenções, mato os oponentes
Por singelo amor à DEMOCRACIA.

Melhor e mais fácil: acendo uma vela à noite
Vejo imagens noturnas e nubladas
Fingindo estar vivendo o dia.


CONVERSATION

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