Tenho quarenta anos e escrevo desde a
infância. De maneira mais específica, resignifiquei minha relação com as letras
somente nestes últimos anos de vida. Não possuo formação acadêmica e escreverei
as próximas linhas menos com o fito de relatar minha fortuita descoberta deste
nobre ofício e mais com o objetivo de mostrar-lhes o efeito terapêutico que o
simples ato de escrever me precipitou. O labor com as palavras me ajudou a
purgar muitos sentimentos permanecidos e represados que foram registrados
permanentemente no papel ou na tela de computador.
Serei sucinto. A mudança de
perspectiva começou a partir do ano de 2007, quando fui convocado para
trabalhar para além dos limites físicos da cidade. Nesta situação permaneci por
cerca de seis meses e resolvi – durante o período – relatar para amigos mais
próximos as experiências adquiridas no quotidiano da nova função. Assim,
diariamente, após o expediente passava as primeiras horas da noite mergulhando
nas emoções experimentadas naquela insólita cidade de hábitos e gente estranhos.
Para minha surpresa, os textos foram
bem comentados pelos amigos. Percebi que havia conquistado capacidade de
transpor emoções para as palavras e conseguia – através delas – contagiar pessoas.
É como se todos os sentimentos registrados permanecessem ali mesmo, resistindo
à ideia de serem dissipados com o passar do tempo. Uma vez acessados por outro
leitor voltavam à tona e impactavam novamente o fruidor.
Menos preocupado aqui com o sentimento
causado àqueles que liam os e-mails, notei
certo bem-estar toda vez que purgava situações através daqueles escritos. Eram
textos simples e versavam sobre o quotidiano vivido, mas traziam consigo a
capacidade de reter sentimentos/emoções produzidos funcionando como um grande laboratório catártico. Sentia-me
diferente após produzir os pequenos textos e isso fazia deles novos parceiros
de caminhada.
Desde então passei a registrar tudo
que sentia através de textos prosados. Depois, passei a produzir versos e
mantenho este belo hábito até os dias de hoje.
Venho aqui – através da minha
experiência – sugerir que palavras podem ser excelentes companhias para nossas dores.
Todos nós possuímos um poder latente que consiste em transformar as angústias e
aflições em algo positivo: em arte! Gostaria de estimular o leitor – sobretudo
aquele que não possui o hábito de escrever – a registrar tudo aquilo que o
incomodar ou chamar atenção quotidianamente. Acredito que podemos forjar uma
nova geração de “artistas das letras” que consigam transmutar o trivial em
espetáculo para a alma.
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