O QUE ME RESTA QUANDO FOR

Hoje acordo cansado.
Com olhos salgados
E asa quebrada.
Sentimento aguçado de vida e dor.

Hoje não desejo amor.
Não anseio métrica nem rima,
Quero horror que alucina,
Sonho realidade.

Hoje não enxergo vaidade,
Vejo carne aprodrecer
Privilégios desfeitos
E luxos desfiados.

Hoje, percebo mais perto a morte,
Rebato nossa sorte, nossa fragilidade
E lanço faíscas de vida
Ao acaso.

Hoje falo em "primeira pessoa".
Meu "outro eu" veio, pela manhã,
Muito cedo, quase noite,
Amargando-me a boca.

Hoje pretendo do céu um rasgo
De luz, esperança ou suór.
Preciso o melhor e o pior,
Da humanidade que se esvai.

Permaneço de luto, protesto.
Extraio claro manifesto
De insatisfação contra minha carne
Feita de sangue, água e palavras.

Hoje invejo aqueles que se vão,
Com amigos à volta,
Belas canções, festa,
Vinho e arte.

Pois a ninguém quero encantar.
Apenas debato-me diante de mim,
Com minhas limitações, minha ampulheta,
Vejo o passar do tempo.

A areia derramada fecha um ciclo.
Ainda vejo os grãos que não retornam.
Hoje... apenas um estado, sem importância.
Poderia ter sido ontem.


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