POEMA SINGELO

Saudade... verbo transitivo
Gramática que marca
Presença que não possui
Sentimento amargo, perverso, antigo
Controverso amor... ombro amigo.

Desculpem, Saudade não é verbo!
Não age nem flexiona
É substantivo, substância
Substancia algo... alguém que se apaixona!
Possui corpo e forma
Tem nome, endereço
Não tem fim e sim começo
Cheiro, gosto, norma.

Saudade até consola
Irracional murmúrio
Possui lágrimas
Como as que caem agora.

Saudade é burra
Não reflete, não pensa
Não pondera, só sussurra
Não respeita (palavra tensa!)
Crença, carne ou cor
Saudade... apêndice de dor.

Saudade apenas lateja
Dói mesmo, alucina
Obriga, mata, determina
Autoriza e quebra o contrato
Acorda... proíbe o ato.

Contraponto do orgulho
Imoral e indecente
Saudade bate, xinga, morde, mente
Arrasta, empurra!
Já lhe disse: SAUDADE É BURRA!

Inquieto em minha casa
Minha sala, erudito
Villa Lobos, muito aflito
Me canta a saudade.

Sei que já passou da hora
Deixarei esta senhora
Mas amor... lembrança invade
Louco devaneio, bela outrora.

Nobre amigo ainda canta
Este singelo, tolo poema
Que por singelo ainda encanta
A doce lembrança deste tema.

Ah, Saudade!
Vá embora, deixe-me ir
Já é hora de partir
Já não te quero mais alarde
Já é tarde.


CONVERSATION

2 comentários:

  1. A saudade me encanta
    Não sei se sou dela
    Ou se ela é minha
    Considero controversa, avessa
    Contrária ao que quero
    Contrária ao que tinha

    A saudade nos torna translúcidos
    Vulneráveis, profundos
    Não sei se é dor, ou sentimento
    Saudade é a melhor/pior coisa do mundo

    É assim que sinto a saudade...
    Inconsolável, intraduzível
    Só no português ela cabe
    Não seria outra coisa
    Apenas vaguidão, rastro, trilha
    É assim que sinto a saudade:
    Uma garrafa atirada ao mar
    Por um náufrago numa ilha.
    Tatiana Coelho

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  2. Claramente motivada a não quebrar o clima de poesia diante da saudade, palavra que tanto angustia, fui vencida pela vontade de continuar uma conversa que me foi tão agradável... Saudade se transforma e hoje, do que tanta saudade senti, resta apenas uma leve lembrança escondida na sábia zona do esquecimento, simplesmente porque a nós, não cabe esquecer por completo, caso possível fosse, aquela saudade de outrora não ocuparia nenhum dos espaços na minha cadeia neural. Amado cérebro, criado à imagem e semelhança do perfeito, que em seus múltiplos sistemas de memória, nos liberta constantemente de tudo que aprisiona. Somos livres. Sejamos livres!!

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