Eram duas horas da tarde, mais ou menos. O dia nem me lembro... Saindo da periferia do Rio de Janeiro em patrulha... tensão à flor da pele, viaturas em comboio, chegamos à Cidade de Deus. A famosa Cidade de Deus...
Dois solitários policiais faziam frente á uma multidão de curiosos. Assustados, não recusaram a nossa presença. Descemos das viaturas... cercamos todos os lados, fugindo dos possíveis atiradores que, vez por outra, surgem furtivamente por entre as construções da favela. Até então, não havia percebido o motivo de tamanha aglomeração...
Um leve cheiro de carne queimada pairava no ar. O capitão, que se encontrava a frente do comboio, foi ter com um dos policiais e logo se protegeu atrás de uma grande viga de sustentação do viaduto que passava em frente às primeiras edificações da favela. Logo em seguida, outro policial que se encontrava ao meu lado, mostrou-me algo de que nunca mais me esqueceria...
Lá no canto da via... discreto... debaixo duma daquelas vigas de sustentação do viaduto, avistei um cesto de lixo que curiosamente apresentava algo de muito estranho. Uma perna... o membro, chamuscado por uma grossa camada de fuligem preta, surgia no fundo do cesto como se o estivesse rompido...
Era o "microondas"... uma modalidade já banalizada de execução aqui na Cidade Maravilhosa. O homem, executado por traficantes na noites anterior, tinha sido "colocado" naquela pequena cesta e queimado... provavelmente vivo. O tamanho da vítima era imcompatível com a capacidade da cesta... o membro rompeu o fundo da cesta e ficou ali exposto, para o horror de nós policiais... ironicamente foi a única parte do corpo que não havia sido queimada...
... A excessão daquela multidão de moradores da Cidade de Deus... todos que por ali passavam, não pareciam se incomodar com aquele infortúnio...
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