O AMOR ESTA MORTO



      Sentado à beira da cama hoje pela manhã, pus-me a recordar alguns acontecimentos e percebi um último gosto de desesperança invadir-me a boca. Desculpem a exagerada dose de pessimismo, mas é nele que compartilho algumas constatações. Pois bem... O amor está morto! Em tempos de internet e wi-fi estamos cada vez mais distanciados, aprisionados em nossas caixinhas pessoais. A comunicação agora está quase restringida às redes sociais e cultivamos alguma forma estranha e ácida de "amor virtual" materializada nos sites de namoro e no sexo por telefone.
      
      Aqueles que tentam resistir ao império do virtualismo nas relações se deparam com parceiros que evitam excessiva convivência como se "estar ao lado" de alguém, todos os dias, fosse uma prática fora de moda. "Abaixo ao casamento", eles dizem. Estamos na era do ficar com e da completa ausência de sentimentos vinculadores do humano. Assim, o significado cedeu espaço para a utilidade  e nos tornamos parcerias úteis um para o outro e apenas isso. Nos apaixonamos pelo outro porque e não apesar de, pois, nos esquecemos que somos tentados pela incongruência em nossas ações. Somos humanos também.

    O amor tornou-se liquefeito. Se desmanchou ocupando variados recipientes, assumindo inovadoras formas. Isso é bom! Antes, parecia ser algo sólido... estático e enrijecido. Entretanto, o que me pareceu estranho, foi a atual maneira volatilizada que assumiu nos últimos tempos, pois, agora, até o amor possui prazo de validade. Pais desamam seus filhos assim que assumem novos relacionamentos, casais se desfazem frente ao primeiro traço de humanidade de ambos, declarações amorosas transformam-se em insultos de maneira tão rápida quanto se sorve um gole d'água numa tórrida tarde de verão.

     Sou obrigado a admitir. Bauman tinha razão! O amor ora liquefeito evapora frente ao menor confronto com as zonas quentes do convívio humano. Não existe mais seriedade no amor. Este sentimento não precisa ser mais serial, contínuo e perene para fazer sentido. Entretanto, juntamente com a fugacidade das relações amorosas, esvaem-se muitas possibilidades de aprendizado. Desta forma, evitamos o sofrimento quando roçamos os contornos do "amor sério" ao tempo em que nos tornamos seres desprovidos de experiência, pois, aprendemos muito com nossas relações.

      Espero que as novas gerações adaptem-se rapidamente a estes novos tempos do "wi-fi", pois, este velho D. Quixote aqui continuará vociferando contra a plasticidade superficial das relações humanas. O que para muitos parece ser moda, para mim é apenas mais uma forma neurótica de autodefesa.

Pronto! Disse...

By Silvio Rosário


      

          

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